Eu tenho uma sensação de que ideias, quando dispersas e não organizadas, também confundem a gente. Essa sensação é como um incômodo, algo que fica sobe do estômago e fica preso na garganta: por que eu não consigo escrever? A resposta, embora não seja difícil de encontrar, é difícil de ser colocada em prática. Sei que a escrita — como qualquer outra atividade — é aprimorada pela repetição; também sei, ou melhor, acredito, que a insatisfação com o resultado faz parte do processo. Mas há um problema nisso tudo.
Existe algo de angustiante em falar sobre os problemas de escrever porque, internamente, sinto como se estivesse me colocando na posição de escritor. Olho para os lados, aqui no Substack, ou para cima, pensando nos escritores que costumo ler — Lygia Fagundes Telles, Jorge Amado e tantos outros — e o “título” de escritor parece um pedantismo da pior espécie quando atribuído a mim. Vejam: não é porque não gosto de ser chamado assim; muito pelo contrário, eu adoraria. O problema é que, de certa forma, não me vejo digno dele. Ou, se penso nas pessoas que conheço e podem ler meus textos, imagino que a primeira reação delas será: “tu? escritor?” e uma risada. Então a vergonha me faz abominar tal título.
Apesar dessas questões, eu adoro escrever. Não o faço com mais frequência exatamente pela falta de prática, algo que tento mudar em mim. Há também uma certa dificuldade causada pela falta de referências criativas: quando não me proponho a desbravar as newsletters publicadas no Substack, quando estou preso em um livro cuja leitura é agradável, mas lenta, quando paro de olhar para o mundo com um “olhar criativo” — algo difícil de definir e que, colocando desta forma, parece um clichê medíocre de alguém que age como se houvesse descoberto a roda —, seja por falta de busca ou por falta de oportunidade, sinto como se não tivesse sobre o que escrever. É como se a sede criativa que acredito haver em mim não fosse saciada, deixando-me sempre com vontade de escrever, mesmo sem nunca saber sobre o quê.
Na descrição deste espaço falo sobre coisas que me animam exatamente porque elas me motivam a escrever. Não estar rodeado delas me deixa imóvel. Estar imóvel me deixa incomodado. Estar incomodado, por sua vez, me faz lembrar das angústias de falar sobre os problemas de escrever porque, afinal, me imaginar como escritor parece um pedantismo. O ciclo se repete.
Eu já cogitei definir um tema para a newsletter, me propondo a escrever com frequência sobre isso, mas quando paro para pensar nas coisas sobre as quais tenho um certo domínio mudo de ideia: Deus me livre de escrever sobre política. Sobre Fórmula 1 eu até poderia, mas não vejo com bons olhos a ideia de parar de acompanhar o esporte como fã e admirador para me dedicar a ser um comentarista amador. Nas poucas vezes em que escrevi sobre, preferi falar sobre as emoções causadas pelo esporte, contando uma história. O que isso significa? Não sei. Eu sei é que aprecio e admiro as pessoas que acompanho por aqui, tanto pela frequência, quanto pela capacidade de escrever sobre um tema que as agrada, e que isso me faz vontade de fazer algo parecido.
Este não é exatamente um texto com começo, meio e fim. É algo mais próximo de um texto de recomeço e incentivo para mim mesmo: incentivo a lembrar de que i. devo organizar minhas ideias, ii. devo escrever sobre o que gosto e não pensando na aprovação de terceiros (embora não abandone a revisão do meu namorado sempre que finalizo algo) e iii. devo voltar a buscar maneiras de saciar a sede criativa, afinal, é ela que me motiva a escrever.